domingo, 24 de agosto de 2014

Congresso de acessibilidade - superação - tecnologia - inclusão

O Congresso de Acessibilidade, idealizado pela consultora em acessibilidade e inclusão Dolores Affonso, será o primeiro congresso nacional da área a ser realizado de forma totalmente gratuita pela internet. O evento acontecerá entre os dias 21 e 27 de setembro de 2014, coincidindo com a comemoração do Dia Nacional de Luta pela Inclusão das Pessoas com Deficiência.

Tendo nascido de um sonho de um mundo melhor – mais inclusivo -, contará com mais de 30 renomados especialistas de diversas áreas: inclusão, diversidade, acessibilidade, saúde, relacionamento, carreira, empreendedorismo, direitos humanos, tecnologias de informação e comunicação, assistivas e para reabilitação, entre outros. Eles trazem informações, conhecimentos e oportunidades que podem mudar a vida das pessoas com deficiência ou necessidades especiais.

O evento poderá ser assistido por computadores, tablets e celulares. As palestras serão veiculadas com legenda, audiodescrição e tradução em Libras para ser acessível a todos. O site do congresso também é acessível, oferecendo opções de aumento de fonte e de tradução de todo o conteúdo em Libras, além de, é claro, oferecer um leitor de telas integrado e ainda ser acessível aos leitores de telas de computadores, tablets e celulares.

“Este será um evento sem precedentes no país, muito esperado pelos mais de 45 milhões de brasileiros com deficiência e pelos outros milhões com necessidades especiais que lutam por uma vida digna no Brasil. Tenho certeza de que este evento mudará a vida de milhares, quem sabe milhões de pessoas por todo Brasil. Ficar de fora é o mesmo que desistir da sua vida e de seus sonhos!”, diz Dolores Affonso, Diretora Executiva da Affonso e Araujo Consultoria, deficiente visual e idealizadora do Congresso de Acessibilidade.

O evento contará com palestras, como a da própria Dolores Affonso, que ensina os 5 passos para superar a deficiência e mudar de vida, alcançando autonomia e liberdade; a do Fernando Lemos, sobre tecnologias para inclusão; a do Prof. Neivaldo Zovico da FENEIS, sobre a comunicação dos surdos; a da Laramara, sobre tecnologias assistivas e mobilidade, entre tantas outras; e entrevistas, como a de Lars Grael, contando sua história de superação e de Teresa Costa D’Amaral do IBDD sobre os direitos da pessoa com deficiência. Além de mais de 30 especialistas, o evento também trará representantes dos projetos e políticas públicas de inclusão e entidades de apoio aos deficientes explicando sobre os direitos das pessoas com deficiência, programas, projetos e eventos, e muito mais. O congresso contará ainda com um espaço virtual para parceiros, com informações de contato de diversas organizações de apoio ao deficiente; empresas de recolocação, formação e capacitação profissional; empresas desenvolvedoras de tecnologias de informação e comunicação, assistivas e para reabilitação, sites de relacionamento, agências de turismo acessível, projetos de esporte adaptado, cultura acessível, arquitetura humanista, moda inclusiva e muito mais.

Público

O evento foi pensado para atender as necessidades de todos: pessoas com e sem deficiência e/ou necessidades especiais, pais, amigos e demais interessados no tema; educadores, instituições de ensino e empresas que precisam se tornar acessíveis e inclusivas; organizações não governamentais, órgãos e entidades públicas de apoio, profissionais da saúde, arquitetos, web designers, cuidadores, enfermeiros, profissionais da área de cultura, esporte e todos que precisam conhecer as necessidades especiais, expectativas, capacidades e potencial das pessoas com deficiência e suas reais possibilidades de participação na sociedade, para realizarem melhor suas atividades pessoais e profissionais.

As pessoas, empresas e instituições que se interessarem em transformar vidas podem participar do congresso como parceiros, apoiadores, patrocinadores, fornecedores de brindes, divulgadores de produtos, entre outros. Para isso, entrem em contato com a idealizadora do evento Dolores Affonso (contato@congressodeacessibilidade.com).

Criamos uma campanha de doações para aqueles que acreditam na inclusão e na possibilidade de um mundo melhor, querem ajudar, apoiar a causa e não sabem como! Visite e saiba como participar!

Acesse nosso site www.congressodeacessibilidade.com e conheça os palestrantes e temas que serão abordados durante o congresso.

Serviço
Evento: Congresso de Acessibilidade
Datas: De 21 a 27 de setembro de 2014
Local: Online
Preço: Gratuito

Frase do dia

Por mais que as vezes parece que estamos sosinhos, Deus está conosco.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

15 anos como pessoa cega

Neste momento estou sentindo um misto de alegria e tristeza.
Hoje estou completando 15 anos sem enxergar.
Neste mesmo dia comemora-se o dia nacional do Historiador, coincidentemente me formei em História.
Minha vida mudou literalmente da noite para o dia, pois acordei cega.
Foi muito impactante, pois mudanças estavam por vir.
Aceitar essa nova realidade não foi fácil.
Viver nesse mundo novo era um desafio.
Na vida certas coisas não se explicam, se vivem.
A maior certeza que tive era que precisava caminhar em frente e tentar realizar meus objetivos apesar dos pesares.
Ser chamada de cega no começo doía muito na alma.
Acostumar-me com a idéia de que não teria como reverter o ocorrido demorou bastante.
Ser mais forte que a morte também era preciso.
Pensar positivamente em dias melhores era a saída.
Acreditar em Deus foi imprescindível.
Meus pais e Deus foram meu alicerce.
Tive muita esperança em dias melhores.
A fé me moveu para frente.
Durante esses 15 anos percebi que tudo na vida é possível.
Estudar, trabalhar, amar, casar e ser muito, muito feliz.
Apenas precisamos acreditar em nossas capacidades que tudo se realiza.
Agradeço a Deus por ter me dado força para seguir em frente e por ter conseguido realizar meus sonhos!
Atualmente sou uma pessoa realizada e feliz!

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A VIDA QUASE SECRETA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

A paulistana Maria Eugênia é dona de casa, tem 64 anos e um único neto, o Luís Felipe, que neste mês completa doze anos de idade. O Luís Felipe é cego. "Antes do Felipe, eu nem imaginava como era ter uma deficiência e a única coisa que sentia era pena dessas pessoas", conta em um longo email. "Via campanhas de arrecadação de dinheiro para instituições assistenciais na televisão, todo mundo sorrindo, eu ficava feliz por serem acolhidas e cuidadas pela sociedade, já que achava que não podiam mesmo estudar, trabalhar ou casar - aliás, achava que nem eram em número tão grande porque a gente quase não vê cadeirantes e cegos pelas ruas".
Hoje, a opinião da Maria Eugênia é outra: "O preconceito contra quem tem deficiência é enorme, a desinformação sobre o assunto é geral e as medidas realmente inclusivas quase não existem, principalmente para os cegos. O discurso do governo é um e a prática é bem outra. Muitas ações para a imprensa ver, mas que nem de longe atendem às reais necessidades de quem tem deficiência. Somos uma família de leitores, lembro da farra que eram as reuniões com colegas de escola para fazer trabalhos, aquele monte de livros indicados pelos professores espalhados sobre a mesa para a gente discutir e consultar. Fico triste porque o Felipe não tem acesso a eles, as editoras não vendem os livros nos formatos digitais acessíveis, as bibliotecas não são acessíveis e livro é uma das coisas de que ele mais gosta na vida! Hoje, já quase nem entro mais em livrarias, de tanto desgosto. Os livros não são acessíveis, as cidades não são acessíveis, a televisão também não! Nada que é para todo mundo é para ele. O esforço dos cegos para estudar, para ter acesso à cultura e à vida social é muito grande e maior ainda para se equiparar aos colegas que enxergam. Nossa preocupação é que, mesmo que o Felipe conclua uma faculdade, como é que vai conseguir um bom emprego?"
Boa pergunta. O consultor, palestrante em acessibilidade e ativista Flávio Scavasin que o diga. Tem 53 anos, é formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e dono de um consistente currículo que inclui a gestão do Parque Villa-Lobos, em São Paulo. É monocular, ou seja, enxerga com apenas um dos olhos, e utiliza uma prótese em uma perna. Para fazer um teste de empregabilidade e comprovar o que já é mais do que sabido, Flávio digitou seu currículo para uma das melhores vagas oferecidas pela mais conhecida agência de empregos online do país. Ao colocar sua deficiência, a vaga simplesmente desapareceu!!! Mas voltou, como mágica, assim que ele digitou o mesmo currículo sem mencionar a deficiência...
Relatou o episódio durante o recente fórum Sou Capaz - Promovendo a Inclusão Profissional, realizado no dia 31 de março pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em São Paulo, a um painel de palestrantes composto, entre outros, por representantes do governo municipal, das empresas Mahle, Metso Brasil e Pirelli e auditores fiscais do trabalho. Ouviu que muitas empresas contam com parceiros externos para a seleção de pessoas com deficiência e outras nem conhecem estes canais de acesso; e que as vagas existem e não há discriminação quanto a seu preenchimento por pessoas com deficiência, bastando que sua deficiência não atrapalhe a execução da função.
Questionados a respeito da ínfima ocupação de cargos gerenciais e executivos por pessoas com deficiência, os argumentos foram de que por conta das dificuldades existentes para que tenham uma boa educação e formação profissional, o maior número de vagas acaba sendo mesmo para os cargos com pouca qualificação; que o recrutamento para os cargos mais altos é feito dentro das próprias empresas, que optam por promover seus funcionários em vez de buscar profissionais no mercado; que para algumas especialidades não há profissionais capacitados nem com nem sem deficiência; e, claro, a resposta-padrão quando não se tem uma resposta: que esta é uma questão latente que precisa ser mais discutida, mais aprofundada em mais encontros, mais debates etc. etc. etc.
O sopro de ar fresco do fórum veio de Grácia Fragalá, ex-executiva das áreas de segurança e saúde no trabalho do grupo Telefônica e atual consultora da FIESP, ao afirmar que nas empresas, as áreas da segurança e da saúde do trabalhador são restritas ao ambulatório, à análises de acidentes e à expressão "não pode"; são áreas vistas como centros de custos e não de investimentos; que a empresa só olha para tudo o que a pessoa com deficiência não pode fazer; e que o foco está mesmo apenas no cumprimento de exigências legais.
Já a coordenadora nacional do projeto de inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, Fernanda Maria Pessoa Di Cavalcante, uma das palestrantes do Fórum Lei de Cotas e Trabalho Decente para Pessoas com Deficiência, realizado no último dia 11, na feira Reatech, em São Paulo, afirmou que são muito poucas as empresas que cumprem a Lei de Cotas espontaneamente. "Pergunto a empresários se contratariam pessoas com deficiência se não houvesse obrigatoriedade e fiscalização e a resposta é sempre não", diz.
O mais preocupante, segundo Fernanda, é constatar que em 2012 ficaram nas empresas apenas 6% do percentual de pessoas com deficiência incluídas - costumam ser demitidas depois que a fiscalização é realizada. "Mas a Lei de Cotas ainda é, infelizmente, o grande instrumento de inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho", conclui. No mesmo fórum, o secretário estadual de inclusão da pessoa com deficiência da Força Sindical de São Paulo, João Batista da Costa, afirmou que "em cada quatro trabalhadores com deficiência no Brasil, apenas um está empregado".
Ainda no fórum, o consultor e ativista de direitos Romeu Kazumi Sassaki apresentou e comentou as recomendações da Organização Internacional do Trabalho para a Boa Inclusão. Aí vão algumas delas, tão necessárias quanto urgentes: fomentar o autoemprego e as empresas sociais, como, por exemplo, as cooperativas; incentivar o acesso ao crédito financeiro; melhorar o trabalho decente nas economias rurais; equacionar o trabalho informal, para que deixe de ser clandestino e assegure direitos ao trabalhador; implementar a acessibilidade nos espaços virtuais, quase esquecida em detrimento das adaptações de ambientes físicos; e que a inclusão, com as discussões envolvendo basicamente a iniciativa privada, também seja cobrada no setor público, no governo - espaços muitas vezes restritivos demais.
Flávio Scavasin brinca que, se nos anos 1970 só o que os governos faziam no Brasil era construir estradas e aeroportos pela visibilidade que traziam, estamos agora na década dos eventos e é um atrás do outro. Só que, infelizmente, o que se nota é que, cada vez mais, os encontros, debates, seminários e simpósios sobre inclusão têm sido apresentados por quem não tem deficiência e, também cada vez mais, para plateias formadas em sua quase totalidade por pessoas sem deficiência. Em um meio onde quase não existe luta por direitos básicos, como esperar mudanças efetivas se a já pequena participação dos maiores interessados parece diminuir? Às vezes, nada é mesmo tão ruim que não possa piorar.